Você já jogou dois jogos do mesmo gênero, com mecânicas parecidas, mas um deles era simplesmente mais… gostoso de jogar? Cada pulo parecia certo, cada ação tinha um peso, cada feedback era instantâneo e satisfatório.
Essa qualidade quase mágica, difícil de descrever em palavras, é o que chamamos de “Game Feel” ou, como alguns dizem, “Juice”. Não é sobre o que o jogador faz, mas sobre como ele se sente ao fazer.
Muitos pensam que isso é algo complexo, um segredo guardado por grandes estúdios. Mas a verdade é que um bom “Game Feel” é construído com a soma de dezenas de pequenos detalhes e truques de design.
Hoje, vamos explorar 3 dessas técnicas, que são relativamente simples de implementar e que têm um impacto gigantesco na sensação que seu jogo transmite.
1. Controles que “Perdoam”: Coyote Time e Jump Buffering
Em um jogo de plataforma, a precisão é tudo. Mas, às vezes, a precisão do computador pode parecer injusta para um ser humano.
- O Problema: O jogador corre em direção a um abismo, aperta o botão de pulo um milissegundo depois de sair da plataforma e cai. Ou ele aperta o pulo um instante antes de tocar o chão após uma queda, e o pulo falha. Tecnicamente, o computador está certo, mas para o jogador, a sensação é de que o controle “não respondeu”.
- A Solução:
- Coyote Time (Tempo Coiote): Nomeado em homenagem ao famoso desenho, esta técnica consiste em dar ao jogador uma pequena “janela de misericórdia” (ex: 0.1 a 0.2 segundos) para que ele ainda consiga pular mesmo depois de ter saído da beirada de uma plataforma.
- Jump Buffering (Buffer de Pulo): Esta técnica “guarda” o comando de pulo do jogador por uma fração de segundo. Se o jogador apertar o pulo um pouco antes de aterrissar, o personagem executará o pulo automaticamente assim que tocar o chão.
- O Impacto: Essas duas técnicas, quando implementadas, são quase imperceptíveis, mas sua ausência é sentida como controles “duros” ou “imprecisos”. Elas fazem o jogo parecer mais inteligente e responsivo, como se estivesse “lendo a mente” do jogador.
2. Impacto Físico: O Poder do “Screen Shake”
- O Problema: O seu personagem, que tem 2 metros de altura, aterrissa de um pulo alto, mas o impacto no chão é silencioso e sem peso. Um inimigo explode em uma bola de fogo, mas a sensação é de que nada no mundo ao redor foi afetado.
- A Solução: Adicionar uma pequena e rápida tremida na câmera (Screen Shake) para dar peso e uma sensação de impacto às ações.
- Como Fazer: A ideia é criar um script que, ao ser acionado, movimenta a posição da câmera de forma sutil e aleatória por uma fração de segundo. Embora você possa criar seu próprio script, uma excelente ferramenta da própria Unity para isso é o Cinemachine. Com o módulo “Impulse”, você pode gerar tremores de câmera complexos com pouquíssimo esforço.
- O Impacto: O Screen Shake é uma das formas mais eficazes de adicionar “peso” e poder ao seu jogo. Use-o com moderação em: aterrissagens, explosões, ao receber dano, ao disparar uma arma poderosa, etc.
3. Feedback Instantâneo: Partículas e Sons
- O Problema: O jogador acerta um inimigo, e a única coisa que acontece é que a barra de vida do inimigo diminui um pouco. Ele coleta uma moeda, e apenas o número no canto da tela muda. As ações parecem “vazias”.
- A Solução: Adicionar pequenas “explosões” de feedback sensorial para cada interação importante.
- Exemplos Concretos:
- Ao Pular: Adicione um pequeno efeito de poeira (usando o
Particle System
da Unity) nos pés do personagem ao sair do chão e ao aterrissar. Combine isso com um som de “thump”. - Ao Coletar um Item: Toque um som de “bling!” e mostre um brilho rápido ou algumas partículas que voam em direção ao jogador.
- Ao Acertar um Inimigo: Mostre um pequeno flash de cor no sprite do inimigo, toque um som de impacto satisfatório e instancie algumas partículas de faísca no ponto da colisão.
- Ao Pular: Adicione um pequeno efeito de poeira (usando o
- O Impacto: Esta camada de feedback constante torna o mundo do jogo reativo e vivo. O jogador se sente mais poderoso e eficaz porque o jogo está o tempo todo confirmando visual e audivelmente que suas ações estão tendo um efeito no mundo.
Conclusão
“Game Feel” não é uma única funcionalidade, mas a soma de dezenas de pequenos truques e polimentos como estes. É o que diferencia um projeto tecnicamente funcional de uma experiência verdadeiramente divertida e memorável.
Muitas vezes, a diferença entre um protótipo que acaba sendo abandonado e um jogo que as pessoas amam não está na complexidade da ideia, mas no cuidado com esses detalhes. Depois que você aprende a terminar um jogo, o próximo e mais delicioso passo é aprender a fazê-lo sentir-se bem.
Comece adicionando uma dessas três técnicas ao seu projeto atual. A diferença será imediata.
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