Sonhar Grande, Começar Pequeno: Por que seu Primeiro Jogo não Deveria ser o Jogo dos Seus Sonhos

Um RPG de mundo aberto com uma história épica que levaria anos para ser contada. Um multiplayer online com sistemas complexos e milhares de jogadores. Um clone de seu jogo AAA favorito, mas com a sua visão única para corrigir tudo que você acha que fizeram de errado.

Eu conheço esses sonhos. Eu já tive todos eles. Meu disco rígido é um verdadeiro cemitério de “jogos dos sonhos” que nunca passaram do primeiro protótipo funcional.

É por isso que estou aqui para compartilhar o conselho mais importante e, talvez, o mais difícil de ouvir para um iniciante apaixonado: guarde a ideia do seu jogo dos sonhos em um lugar seguro e especial. Não comece por ela.

Sei que parece contraintuitivo. A paixão por essa grande ideia é, afinal, o que te motiva. Mas acredite em mim, começar por ela é, na maioria das vezes, a rota mais rápida para a frustração e o abandono.

A Ambição Inicial: Uma Armadilha Sedutora

Quando estamos começando, não sabemos o tamanho do iceberg que está submerso. Um jogo, mesmo que pareça simples, envolve uma quantidade imensa de disciplinas:

  • Lógica de programação
  • Arquitetura de software
  • Inteligência artificial para inimigos
  • Design e implementação de interfaces (UI/UX)
  • Sistemas de salvamento e carregamento
  • Otimização de performance
  • Balanceamento de jogabilidade
  • Design de som, arte, narrativa…

Tentar aprender tudo isso de uma vez em um projeto massivo é como decidir aprender a cozinhar preparando um banquete de casamento para 200 pessoas. As chances de se sentir sobrecarregado, não ver progresso e desmotivar são enormes. O resultado? Mais uma pasta de projeto abandonada e a sensação de que “desenvolver jogos é muito difícil para mim”, o que não é verdade. O projeto que era grande demais.

O Poder de “Passar Raiva com Coisas Menores”

O segredo para se tornar um bom desenvolvedor não está em evitar problemas, mas em resolvê-los em uma escala controlada. É aqui que entra a beleza de começar pequeno. Você precisa passar raiva com coisas menores antes.

Pense em cada jogo pequeno e clássico como uma matéria obrigatória na “faculdade de gamedev”:

  • Criar um Pong: Não parece empolgante, mas ele te força a aprender sobre input do jogador, movimentação de objetos, detecção de colisão e uma lógica de pontuação simples. Você sai desse projeto sabendo o básico de um loop de jogo.
  • Criar um Flappy Bird: Este projeto te ensina sobre física (gravidade), geração procedural de obstáculos e a importância do “game feel” – aquele ajuste fino que torna o ato de jogar agradável.
  • Criar um Pac-Man: De repente, você é apresentado à necessidade de uma inteligência artificial simples para os fantasmas, gerenciamento de estados de jogo (normal, power-up) e design de nível.

Ao finalizar esses projetos, você não ganha apenas conhecimento técnico. Você ganha algo muito mais valioso: a confiança de que é capaz de levar um projeto do início ao fim e a resiliência para encontrar um bug, pesquisar a solução e consertá-lo.

O Caminho Real para Chegar Aonde Você Quer

“Ok, Maicon, entendi. Mas como eu chego no meu jogo dos sonhos então?” Com um plano de evolução gradual.

  1. Passo 1: Crie Clones. Escolha 2 ou 3 jogos clássicos e recrie-os. Não se preocupe com originalidade agora. O objetivo é puramente o aprendizado técnico e a experiência de finalizar.
  2. Passo 2: Crie um Jogo Pequeno e Original. Participe de uma Game Jam (competições para criar um jogo em 48h, por exemplo). Use uma ou duas mecânicas que você já dominou e crie algo seu, mas com um escopo minúsculo. Uma tela, um objetivo claro.
  3. Passo 3: Aumente o Escopo Gradualmente. Agora sim. Seu próximo projeto pode ter um sistema de menu, múltiplas fases, um novo sistema que você queira aprender. A cada projeto, adicione uma camada de complexidade.
  4. Passo 4: Revisite seu Sonho. Depois de ter alguns projetos concluídos em seu portfólio, abra novamente o baú onde guardou sua grande ideia. Você a verá com olhos completamente diferentes: os olhos de um desenvolvedor que agora entende o escopo, que já tem uma “caixa de ferramentas” de soluções e que sabe estimar o tamanho do desafio.

Não estou dizendo para você abandonar seus sonhos. Pelo contrário. Estou te mostrando o caminho mais realista e seguro para alcançá-los.

Começar pequeno não é um sinal de falta de ambição. É o maior sinal de inteligência, maturidade e respeito pela complexa arte de criar jogos. E, principalmente, respeito pelo seu próprio sonho, que merece ser construído sobre uma base sólida de conhecimento e experiência.

Essa jornada de aprendizado parece familiar? É um tópico que discutimos muito no canal da PERAI DEV no YouTube. Inscreva-se e junte-se à nossa comunidade de desenvolvedores que estão focados em aprender e, acima de tudo, em finalizar seus jogos.

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